terça-feira, 22 de maio de 2012


Salas Ambiente - Característica da estratégia reside na variedade e na natureza das atividades

            Ao longo dos últimos anos, os educadores da Escola Municipal de Educação Infantil Dr. Ruther Alberto Von Mulher tem se preocupado com a verdadeira identidade de um estabelecimento de ensino voltado à faixa etária dos 0 aos 6 anos, porque acredita que ele deve ser um espaço prazeroso, acolhedor e estimulador para o convívio das crianças. Isto nos remete à idéia que o processo ensino/aprendizagem, então precisa estruturar-se com base em uma metodologia diferenciada, específica e direcionada pedagogicamente para as crianças dessa faixa etária, com propostas de trabalho adequadas às variadas situações e de acordo com as possibilidades e necessidades dos alunos. Uma das propostas pode ser a identificada como salas-ambiente, organizadas por sistema de rodízio, mas conservando a divisão (por turmas) dos grupos de crianças, segundo a idade, com o atendimento de um professor ou de uma professora de referência. A característica principal do sistema de salas-ambiente reside na variedade e na natureza das atividades, uma vez que nelas se oferecem oportunidades diversificadas e liberdade na escolha e no manuseio de materiais, além de proporcionar a ampliação dos espaços de trabalho e circulação das crianças e desencadear uma relação significativa com a professora. As salas-ambiente (que não são as conhecidas salas de aula) consistem, pois, em espaços físico-pedagógicos organizados, com vistas a estimular todas as áreas do conhecimento de modo a contemplar a criança como um todo. O trabalho não pode ser realizado, portanto, de forma fragmentada, mas desenvolvido a partir de projetos e redes temáticas que visam a interdisciplinaridade, à construção do conhecimento e à interação do indivíduo com o meio, dando oportunidade para o fantasiar, o criar, o brincar de faz de conta, até apropriar-se da realidade que o cerca. É importante que o aluno seja tratado de modo personalizado e valorizado como indivíduo, porque a ele deve ser dado o direito de experimentar, criar hipóteses, pensar, comparar, estabelecer relações e aprender por meio do ensaio e erro. Ele não deve receber o conhecimento pronto porque a aprendizagem é constantemente construída. Este tipo de trabalho permite que as crianças estejam sempre motivadas para realizar as tarefas, participando, questionando, sugerindo e, até, monitorando os colegas.             Com isto, a auto-estima e a confiança aumentam e se transformam em prazer de aprender. É preciso considerar, também, que o educador não é dono do saber, mas um orientador, incentivador, viabilizador do processo ensino/aprendizagem, provocador de situações problemáticas a serem resolvidas e regulador de conflitos. Na escola, é preciso que ele utilize procedimentos democráticos, respeite o tempo de aprendizagem de cada aluno, aproveite os conhecimentos que a criança tem, servindo-se deles para desencadear novas aprendizagens. Professor deve ser um pesquisador, um analista, um questionador, um desafiador, um instigador, um crítico e um estimulador criativo, dinâmico e um avaliador das práticas pedagógicas e de seus resultados. Para por em prática um trabalho com a metodologia das salas-ambiente, é necessário levar em conta as orientações encontradas em Gardner (Inteligências Múltiplas) e Goleman (Inteligência Emocional). A partir das informações oferecidas por estes autores, a escola poderá definir-se por quantas salas-ambiente desejar ou necessitar de acordo com as possibilidades técnico-pedagógicas administrativas. Sugerimos, neste artigo, dez salas-ambiente, a seguir descritas, que visam ao desenvolvimento das inteligências.

  1. Inteligência lingüística: todos os espaços físicos constituem-se em ambientes para trabalhar a inteligência lingüística, podendo ser mais incentivada, entretanto, na biblioteca da escola, na sala de leitura e na sala de artes. Essa inteligência permite a construção de imagens com o uso da palavra: desenvolvimento da expressão.
  2. Inteligência lógico-matemática: pode ser desenvolvida na sala do jogo, proporcionando ao aluno a construção de imagens com signos numéricos e geométricos
  3. Inteligência espacial: é trabalhada na sala de psicomotricidade, no parquinho e no ginásio de esportes de forma a
  4. Inteligência corporal-cinestésica: pode ser incentivada na sala de artes e na de psicomotricidade, para promover o desenvolvimento das habilidades de resolver e de elaborar formas de comunicação e de expressão por meio do corpo.
  5. Inteligência naturalista: pode ser estimulada na sala de educação ambiental e no parquinho, oferecendo possibilidades para compreensão maior do mundo natural, a partir de caminhadas por trilhas para observação, exploração e experimentação no meio ambiente natural.
  6. Inteligência pictórica: na sala de produção, pode-se promover o desenvolvimento dessa inteligência e busca-se oferecer à criança a possibilidade de criar imagens gráficas. Esta categoria não é citada por Gardner, mas encontra-se presente, discutida e estudada em Celso Antunes, na obra Inteligências Múltiplas e seus estímulos
  7. Inteligência interpessoal: em todas as salas-ambiente e, especialmente, nas do brinquedo, do jogo e no parquinho, podem ser oportunizadas situações para que as crianças desenvolvam as habilidades de compreender e respeitar o outro
  8. Inteligência intrapessoal: deve ser incentivada em todas as salas-ambiente, proporcionando às crianças situações de reflexão sobre as atitudes, os conceitos, as idéias, bem como a valorização de ser único e diferente
  9. Inteligência espiritual: abordando o caráter existencial do indivíduo, esta inteligência também deve ser estimulada em todas as salas-ambiente, sendo mais aprofundada nas atividades de Filosofia com crianças. Usando o diálogo como estratégia de uma comunidade de investigação (grupo de alunos –turma – voltado para a busca de informações, discussão, debate, solução de problemas, etc), é preciso explorar as vivências, os aspectos histórico-pessoais, as brincadeiras, levando as crianças a refletirem sobre o sentido da vida, da morte, dos valores, dos sentimentos e emoções. Essas nove categorias podem ser trabalhadas em dez ambientes diversificados. Isto não significa que a escola deva criar “espações” específicos (salas de aula) para cada ambiente, mas sim aproveitar os espaços existentes, organiza-los, torna-los adequados e criar um clima de trabalho estruturado, com base na riqueza das propostas, das atividades, do envolvimento pessoal e do preparo pedagógico. Conseqüentemente, torna-se portanto, necessário desenvolver atividades que promovam a educação emocional que pode ampliar os relacionamentos, criar possibilidades de afeto entre as pessoas, tornar possível o trabalho cooperativo e facilitar o sentido de comunidade.
As atividades realizadas nas salas-ambiente podem oportunizar o desenvolvimento de habilidades tais como:
  1. Conhecer os próprios sentidos: Muitas pessoas, mesmo na fase adulta, não conseguem definir seus sentimentos, nem o surgimento dessas sensações. Por isso, dever-se-á trabalhar sob o enfoque filosófico, os sentimentos de amor, de vergonha, de orgulho, de tristeza, de medo, por meio de vivências, de histórias, de diálogos pelas comunidades de investigação em todas as salas-ambiente. Assim. Quando adulta, a criança poderá ter condições de avaliar seus sentimentos e a influência que estes causam nas pessoas que os cercam.
  2. Ser dotado de empatia: Na sala do brinquedo, do jogo, do teatro, as crianças devem ser estimuladas no faz-de-conta ou nas tentativas empíricas, a se identificarem com situações ou com pessoas do seu cotidiano. Assim, quando adultas, as crianças poderão ter a capacidade de perceber a causa e a intensidade dos sentimentos do seu semelhante
  3. Aprender a controlar as próprias emoções – Em todas as salas-ambiente, a criança deve ser incentivada a controlar suas emoções, seja na sala do jogo por meio da alegria de ganhar, ou pela raiva de perder, seja na sala do brinquedo, compartilhando brinquedos, seja na sala de educação ambiental, controlando ou aguçando a curiosidade através de experiências, seja na sala de artes, dramatizando histórias, músicas, parlendas com fantasias ou máscaras e com pinturas expressando sentimentos de tristeza, de alegria, de amor, de culpa, seja na sala de leitura e na biblioteca, desenvolvendo a habilidade de ouvir o outro e de expressar o que sente, através de diálogo, de teatro de fantoches, seja na sala de produção, escolhendo um material por vez para trabalhar, seja na sala de psicomotricidade, no ginásio de esportes e no parquinho, trabalhando com sentimentos de paciência, de fúria, de competição e de cooperação. Em cada ambiente, a criança pode aprender a maneira produtiva de expressa ou de adiar seus sentimentos e expressões até o movimento adequado para o mesmo
  4. Remediar danos emocionais: Todo ser humano comete deslizes emocionais e magoa pessoas. Porém todo o ser humano deve aprender a conhecer, a reconhecer e a reparar aquilo que fez. Por isso, deve-se trabalhar na sala de integração com todos os alunos da escola de forma lúdica, por meio da auto-avaliação, levando a criança a assumir a responsabilidade de buscar a reparação do erro e transformar sua atitude
Mãos à obra
Para a implantação das salas ambiente, é preciso realizar na escola estudos e discussões com os professores e com funcionários. A cada discussão podem surgir novas dúvidas e angústias, pois a proposta prevê uma mudança de estrutura, não somente física, mas pedagógica e metodológica. Após um tempo de estudos e de muito trabalho, podem ser implantadas, na prática, as salas-ambiente. Num primeiro momento, pode-se optar por oito ambientes, como por exemplo: sala de leitura, sala de produção, sala de psicomotricidade, sala de brinquedo, sala do jogo, biblioteca, parque, ginásio. A escola deve organizar um cronograma de uso (rotatividade) para que cada turma, durante a semana, possa freqüentar todas as salas, sendo utilizadas duas salas-ambiente diariamente, mais o parquinho, por turma. 
O sonho torna-se realidade 
A proposta constitui-se num desafio e pode ser motivo de satisfação e orgulho para os professores, para os funcionários e para a comunidade escolar, pois com a mudança, as crianças que freqüentam a escola começam a demonstrar maior entusiasmo, prazer e iniciativa em ir para a sala de aula, como acontece em nossa escola. A proposta pode ser incrementada e, à medida que se desenvolve o trabalho, poderão ser implantadas mas salas-ambiente, como, por exemplo, a sala de artes e a sala de educação ambiental. Este trabalho está agregado à filosofia para a criança que a Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Erechim/RS orienta como incremento ao currículo da Educação Infantil e do Ensino Fundamental das escolas municipais. Esta secretaria acredita que o investimento na formação permanente dos professores contribui para o sucesso desta proposta. Sugerimos atividades que podem ser realizadas nas diferentes salas-ambiente, constituindo-se em um projeto que oportunize ao aluno refletir sobre as várias idéias apresentadas.

Bibliografia
Antunes, Celso. Alfabetização emocional, novas estratégias. Inteligências múltiplas e seus estímulos
Belinky, Tatiana. Diversidade
Gardner, Howard. Inteligências múltipas: a teoria na prática
Goleman, Daniel. Inteligência Emocional
Otero, Regina: Renno, Regina. Ninguém é igual a ninguém
Sieiner, Claude: Perry, Paul. Educação Emocional, um programa personalizado para desenvolver sua inteligência emocional

Fonte: Blogger " O Diário da Creche"



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